domingo, abril 03, 2005

trinta de março de dois mil e cinco, vitória, casa alta (gauche)

Amor? A camisa pesada com cheiro de cigarro no meio-dia infernal, e ela feliz e leve ao lado. Talvez, impossível! Como o prato sujo de Domingo pousado ao lado da tv enquanto ela cantarola uma melodia inaudível qualquer. Na Quinta-feira então... o amor se esconderia no porta-retratos mais próximo, e ficaria lá, rindo, de shorts e camiseta num quiosque baiano. E ela jogaria o prato pela janela, como fez com o cinzeiro que passou cheio por três dias na mesa da sala. Mas seria um jeito teatral de se mostrar feliz. Porque quando o amor ainda prendia nossas mãos, ela se lamentou de nunca ter sido forte o suficiente para violências. E agora! O amor só aparece pelas manhãs quando ainda estamos naturalmente bêbados e sem saber exatamente o que pensamos ou fazemos. Ela ri. Conserta a gola da minha camisa. Sai beijando todo mundo pela casa. E sai para se estressar. Ela adora ficar estressada. Nunca economiza dramaticidade ao responder um como vai com muito estressada. Tão estressada que já nem chama mais o amor pra dormir. Só traz as mesmas expressões das máquinas de exercício. Sua. Grita. Estica-se. Contrai-se. Cai cansada, respira forte, levanta um pouco depois já mole de sono, e volta do banheiro exalando cremes de dormir e boa noite. Muito diferente de quando o amor queimava incensos, tragava vinhos, esmagava os lençóis, delirava... Nem com jazz; nem com chocolate quente quando chove, ela faz outra vez a cara que fazia quando ganhava uma florzinha quase morrendo que eu arrancava nos canteiros dos contornos. Beijava meu rosto; deitava a cabeça no meu peito; arrastava-me pelo braço para o sofá e perguntava o que eu queria assistir enquanto o amor nos colava com suor. Isso até a sala ficar um inferno, a casa um tédio só, as ruas uma merda, e o amor um produto vencido que já estava fedendo na geladeira desde o dia dos namorados.

4 Comments:

Blogger Lili Cheibub said...

"o amor nos colava com suor..."
adorei isso. abraço.

11:50 PM  
Anonymous Anônimo said...

Por mais simples que pareça, este, para mim, é o seu melhor texto,sem dúvidas.Mesmo que o final tenha me causado tristeza.

9:55 AM  
Anonymous Anônimo said...

andei sentindo também o amor pesado esses dias... feio, sujo e triste... mas ainda sei que é possível encontrar sua poesia perdida em algum canto escuro... estive com ela uma sexta dessas...
Parabéns, Gauche, por tanto lirismo transpirado. É lindo!

9:19 AM  
Anonymous Anônimo said...

E ai Juliano?
Eu sou "Leonardo" o amigo da "Menina Helga",tivemos a oportunidade de nos conhecer,e você ate me levou la na "Casa Alta".
Eu não me recordo o seu e-mail,
o meu e humanoleon@hotmai.com
Abraços!
Com saudades de ontem.

10:51 AM  

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