O bêbado e a mariposa
Foi quando entrei no banheiro para despejar os excessos alcoólicos que avistei o animalzinho, imóvel e desconsolado, contemplando o fosso da privada. Indaguei se um pouco de adrenalina para o bicho não lhe daria a satisfação de narrativas fantásticas, como as fábulas que meu pai lia quando eu era criança: e o gigante despejou através de sua piroca descomunal um jato sulfúrico de cor laranja e cheiro pestilento sobre as asas do bichinho que lutou contra a correnteza que o impelia ao fosso dos afogados. A mariposa volvia na turbulência da água.
Mas se morresse não contaria seu feito épico.
Apiedei-me do bicho julgando meu ato sem fim senão a maldade. Enfiei um prestobarba enferrujado no vaso e retirei-a ensopada e imóvel.
– Estaria morta?
Aliviado eu repousava sentado sobre o muro da sacada, empunhando um cigarro intitulado do amanhecer, quando reparei nos postes. "Os postes aclaram a negra idade das manhãs". Não, este não seria o bom começo de uma história. Nem o meio e nem o fim!
Pousou em meu ombro, reconheci-a pelas antenas caídas. A senhorinha veio agradecer, mas eu estupefato sequer fui capaz de levar-lhe o dedo comiserado antes que ela saltasse e sumisse pela báscula. Por sorte, e inspiração imediata, ao menos fui capaz de contemplar no júbilo de suas asas a minha boa ação. Havia, enfim, o que escrever.
1 Comments:
Irmão...como tu é malvadinho...por um bom texto é capaz de jorrar esse liquido fedorento dessa tua piroca, e quase matar a coitada da mariposa!
kkkkkkkkkkkkkkk
Tu é fantástico!!!!!
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