domingo, abril 22, 2007

Irmãos

Meu irmão gêmeo nasceu cinco minutos antes de mim. Sempre tive a impressão de que ele sempre esteve a minha frente.

Era o meu único irmão e desde cedo nos foi inculcado o apreço pela disputa. Acabamos por nos tornar os maiores rivais. Na verdade os únicos concorrentes, pois o resto dos moleques de nossa cidade nunca esteve à altura de nossos feitos. Éramos os mais inteligentes, os mais bonitos e os mais habilidosos. Infelizmente eu sabia que também não era páreo para ele.

Na adolescência nos apaixonamos pela mesma garota. Foi ele quem a conquistou. Sobrou pra mim a irmã mais nova. Anos depois passamos os dois no vestibular para engenharia mecatrônica. Sua pontuação foi ligeiramente superior.

Meu desempenho na vida era razoável, mas me sentia o pior dos seres quando amargava mais uma derrota para meu irmão. E ele, na maioria das vezes, sequer sabia que me vencia. Apesar de tudo eu o amava, o amava muito, e é por isso que não consigo me perdoar...

Premeditei tudo dias antes. Combinamos de jantar às nove horas. Ele levaria a noiva Beatriz, eu a minha namorada Isadora.

Naquela noite, como de costume, meu irmão se antecipou e chegou ao restaurante dez minutos mais cedo. Os dez minutos antes de eu chegar, em que o restaurante foi tomado por assaltantes. Disseram que os bandidos eram cautelosos e estavam dispostos a evitar feridos, porém, quando um deles viu Beatriz, a belíssima, resolveu se aproveitar da situação. Primeiro tocou seu cabelo, depois foi descendo a mãe até dentro do decote e acariciou seus lindos seios. Meu irmão não agüentou a injúria e reagiu.

Era a minha intenção comunicar que eu havia me casado com Isadora, na surdina, e que enfim tomara à dianteira. Até preparei um discurso, mas não tive tempo. Antes me deparei com seu corpo inanimado e não pude conter a satisfação, numa gargalhada que repercute até hoje em meus sonhos.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Ariel,

muito bom! Até fiquei com medo de você!
:)
Abraço

12:23 AM  

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