terça-feira, setembro 19, 2006

quinze de setembro de dois mil e seis - ilha de santa maria - vitória

E meu corpo? Sucumbirá ao peso de tantos embates? Ele mesmo me diz que não. Que mesmo puído pelo pútrefe efeito do tempo, me levará até onde minha sede quiser que eu corra. Que só me deixará quando eu dele me perder. Quando o éter de minha alma, naturalmente, não mais couber em tão finos contornos. Faz-me crer em pontes incríveis que me farão saltar sobre abismos terríveis; além de todo o mal, porque assim minha vontade das coisas vivas quererá. Mas ao mesmo tempo, a sensação de que posso ser esmagado a qualquer momento também é tão forte! E o alívio que esta idéia me traz é tão absurdo. Como se esmagado,esmagados também seriam os resultados dos embates que me deixam tão pesado. Mas meu corpo, por si só, nada sabe de pontes ou alívios. Só dói e quer descansar. Quer descanso de planta. De amor sem porta de saída. De infinito sem tempo de contagem. De talvez sem resposta nem dúvida.


j. gauche

2 Comments:

Blogger Ariel Lacruz said...

Muito bom Juliano, o autor que não flerta com o suicídio não deve ser levado a sério. A tensão do início ao fim me prendeu, a filosofia, as metáforas cirurgicamente precisas e belas, esse sim é um grande texto. Também gostei muito do que publicou anteriormente.

4:13 PM  
Blogger George Saraiva said...

O texto é de uma beleza trágica sem comentários, salvo trocadilho! é uma pérola da concisão, como disse o ariel, cirurgico mesmo em suas figuras! uma mistura de Tolstói com André Breton. abração

11:43 AM  

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