12/11/04, NOITE (A. Lacruz)
Desci do ônibus com os tics estourando na cabeça; trafeguei somando os números, sem perder a conta inexorável, fixada pela repetição e porventura, pela curiosidade da eficácia do exercício de concentração tão obstinada. Bem, vejamos, 5407 5408 dividido por 5409 sessenta.... é...5410...5411... – Adianta agora eu saber que foram precisamente noventa minutos se não pude conferir com o relógio G-Shok a hora que se interpunha entre eu e o bar. Não venha o leitor a pensar que saudade eu tinha era de lá, como mô disse a Mi, brincado de indignada. O boteco é a alma do único resto da boêmia que resta à cidade.
Pedi para colocarem o disco do Caetano que trazia. Foram as duas doses de cachaça e o preenchimento da cena pela música o suficiente para que me acomodasse de vez na versão cinematográfica da mesma vida. Veio um baixinho chato que eu já conhecia antes mas não lembrava o nome e me deu um tapa no ombro "Caetano Veloso, né?" pra puxar conversa "Gilberto Gil, Chico Buarque" disse ele saindo pela porta, sem recepção maior que o meu consentimento ao balançar a cabeça. "É, legal" O cara voltou. "Adoro MPB".
A música agrada. O reizinho do umbigo acaba dar luz ao neologismo caetanequização quando gritam do fundo "Põem um pancadão aê, ô". Pancadão, batida, tum, tum, legal, mas àquela afronta se esvaia a boa acolhida que pensei. Mal olhei para traz, o cara jogando sinuca adiantou "Não leva a mal não" "Que isso, tomara cada um tenha seu próprio gosto. Mas talvez se você aceitasse a música com um mínimo de abertura ela te tocasse. Disse o Caetano há pouco que é sem dúvida sobretudo o verso o que pode lançar mundos em um.
Tropeçavas nos astros desastrada, quase não tínhamos livros em casa e a cidade não tinha livrarias; não escapa demais ao contexto do cara? É possível que fuja à compreensão, o cotidiano poético do Caetano.
Mas pelo talvez mantive o discurso intacto . Matei a dose de cachaça, peguei o disco e dei rumo ao destino. Dos tics já não me lembrava, não sentia mais a força estranha.
Após tocar duas vezes a campanhia, pergunta pelo desconhecido uma vozinha irreconhecível vinda do segundo andar. "Surpresa amor! Engenhos novos!" o entusiasmo para tanto um pouco se quebra sem saber a quem se fala. "Ariel" a voz rouca que parece uma ave grave. " "Quem é?" "Ariel". (Música incidental nº 02: O chiado do chinelo desce a escada. Para. O molho de chaves balança). "Oi Ári (A criança canta), a Mi tá no banho".
A Minobanhosemtrancanobanheiro apetita mas também não recebe e a saudade, mesmo que próximo, prossegue. Entrei corredor dentro até a varanda para fumar cigarro e ouvir Roberto Carlos, não achasse o ZéMaria sobre a caixa de som. Na varanda venta muito e o cigarro acaba rápido o que me obriga a imediatamente acender outro, mesmo que por um terceiro olho a fotografia fixada nas carteiras de cigarro advirta. Não trata-se de compulsão, é que a taxa que necessito de nicotina não é suprida se o cigarro acaba rápido, Porra!
Onde está você? Onde está você? Nada mais acontece e eu não tenho ainda o desfecho dessa história. Esperava sentado na murada da varanda por um acontecimento extraordinário com o qual finalizaria o relato de forma que ligasse-se ao inicio e assumisse a forma cíclica que pretendia, mas a rua deserta não oferecia nada.
(Cerca de dois minutos depois)
Than Tchan:
Cheio de inspiração caminho até o banheiro, convicto de que faço eu mesmo o Grã finale. Empurro a porta do banheiro que nunca é trancado, e me apresento de surpresa. "Ei Mi" Ela nua com o sabonete na mão. "Vim lhe dar um beijo que escapou-me".
A. Lacruz
Após tocar duas vezes a campanhia, pergunta pelo desconhecido uma vozinha irreconhecível vinda do segundo andar. "Surpresa amor! Engenhos novos!" o entusiasmo para tanto um pouco se quebra sem saber a quem se fala. "Ariel" a voz rouca que parece uma ave grave. " "Quem é?" "Ariel". (Música incidental nº 02: O chiado do chinelo desce a escada. Para. O molho de chaves balança). "Oi Ári (A criança canta), a Mi tá no banho".
A Minobanhosemtrancanobanheiro apetita mas também não recebe e a saudade, mesmo que próximo, prossegue. Entrei corredor dentro até a varanda para fumar cigarro e ouvir Roberto Carlos, não achasse o ZéMaria sobre a caixa de som. Na varanda venta muito e o cigarro acaba rápido o que me obriga a imediatamente acender outro, mesmo que por um terceiro olho a fotografia fixada nas carteiras de cigarro advirta. Não trata-se de compulsão, é que a taxa que necessito de nicotina não é suprida se o cigarro acaba rápido, Porra!
Onde está você? Onde está você? Nada mais acontece e eu não tenho ainda o desfecho dessa história. Esperava sentado na murada da varanda por um acontecimento extraordinário com o qual finalizaria o relato de forma que ligasse-se ao inicio e assumisse a forma cíclica que pretendia, mas a rua deserta não oferecia nada.
(Cerca de dois minutos depois)
Than Tchan:
Cheio de inspiração caminho até o banheiro, convicto de que faço eu mesmo o Grã finale. Empurro a porta do banheiro que nunca é trancado, e me apresento de surpresa. "Ei Mi" Ela nua com o sabonete na mão. "Vim lhe dar um beijo que escapou-me".
A. Lacruz
2 Comments:
mesmo tropeçando em algumas frases, não me perdi da poética boêmia e caótica que te cercava na tensão de um reencontro. e suas referências - musicais, estéticas, etc... - ficaram bem claras, pra mim, isso já vale pra nos quardar no sempre. felicidades!
gauche
Cara, o Dante fez o mesmo comentário. O lance é que eu gosto de inventar expressões, mas nem sempre sou bem sucedido. No mais, valeu pela dica e pelos votos. Abraço.
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