quinta-feira, março 06, 2008

Vadiagens


Aqui a percepção anda emparedada, a concepção boquiaberta abocanhando feixes de lágrimas. As amarras da confusão afrouxando a historia e o mito das palavras se soltando do tempo. As pontas dos dedos amargam vestindo as linhas.
Temos guias para as rotinas, ninguém se cansa de saber-se vivo. Há um prazer em pegar em cosias. Portanto, neste dia, espreguicei-me, por um segundo senti os ossos furarem as vestes; a pele definhando não é das mais confortáveis, subestimei minhas chagas, o corpo todo; estou em todo lugar aguardando festas que nunca acontecerão!
Espero poder praticar minhas idas e vindas sem ser açoitado pelo remorso, pois que, pátria já não tenho, nem me interessa os túmulos frios. Só há uma coisa sensata a fazer: banhar-me calmamente numa cachoeira caudalosa.

Pensava, horas antes, antes de tudo, antes mesmo de me estirar aqui, que poderia, facilmente, reconhecer a beleza, porém assustei-me tanto com minhas verdades que revirei os olhos e prostei-me ajoelhado rogando à terra. Estimular a alma não é fazer preces às escuras e sim comungar com seus próprios pés e comer o chão, emaranhando em raízes, fazendo-se rocha. A um só tempo fiz-me abrigo das correspondências sinuosas do tempo. Voltava à carne.

Empoado, empoeirado, e que as cinzas sejam o seu antro sagrado e que meu choro seja um balbuciar de criança cheia de abraços fraternos e se houve a sombra (raquítica) compensando um monstro, eu anuncio: que seja poesia tudo quanto meu arredio verbo se der, e sorte para o azar.

10 Comments:

Blogger dansesurlamerde said...

que seja poesia, Gê.
e quem precisa mais?
beijo.

12:03 AM  
Blogger Letícia Losekann Coelho said...

Legal, legal...Vim conhecer teu blog tb! Show!
beijos

12:58 PM  
Blogger Unknown said...

Sou uma visita ilustre?? hehe..

Belo texto Gê! Consegui sentir, ou quase sentir o que vc sente.

beijos!

;*

4:38 PM  
Blogger bia de barros said...

o vadio vive tão intensamente que precisa de sentir cada vez mais a vida em suas veias para seguir vivendo... o vadio é o verdadeiro poeta do amor à vida, em todos os seus aspectos. x)
abraço,
mestre rimbaud.

5:24 PM  
Anonymous Anônimo said...

Belíssimo texto,meu amor!
Tem muito haver com angústias e conflitos...Uma vontade de sentir-se livre a todo custo e o desprendimento das concepções ilusórias do dia-a-dia,dos discursos de moralidade sem sentido.
O vadio sente é na pele;ele corre contra a maré;busca desenfreadamente através dos seus sentidos a percepção mais pura do propósito de estar e sentir-se vivo.
Que seja poesia tudo que houver na vida,na alegria e na tristeza.

Maravilhoso ler o que vc escreve...!x)
Beijos,amor meu...=)
;*

1:08 PM  
Blogger Kamila Zanetti said...

Este comentário foi removido pelo autor.

8:09 PM  
Blogger j. gauche said...

nada confuso. cheio de grandezas. abraço

1:03 PM  
Blogger Priscila Milanez said...

Bonito texto.

4:13 PM  
Blogger Priscila Milanez said...

Então, admito que aquele texto ficou é um pouco obtuso mesmo. De difícil absorção. Talvez porque foi mais fruto de um desabafo do que de um esmero literário-poético, de fato.
Se tiver tempo leia esses aqui:

http://mariafulor.blogspot.com/2008/03/havia-dana-na-densidade-demasiada-dos.html

http://mariafulor.blogspot.com/2008/03/uma-varanda-nas-noites-amenas-de-quase_27.html

7:23 PM  
Blogger Jô Rodrigues said...

Lindo!

(Jo)

8:07 PM  

Postar um comentário

<< Home