Calmaria

Este blog não possui responsável, apenas colaboradores. Os colaboradores desse espaço não se responsabilizam pelas interpretações distorcidas de suas opiniões controversas quando houver e não se retratarão, senão em verso. Aqui apenas dormem e guardam a caça: poemas, crônicas, exercícios, prosas soltas e contos de um grupo sintético de criaturas exóticas. Apenas dormem...
Foi quando entrei no banheiro para despejar os excessos alcoólicos que avistei o animalzinho, imóvel e desconsolado, contemplando o fosso da privada. Indaguei se um pouco de adrenalina para o bicho não lhe daria a satisfação de narrativas fantásticas, como as fábulas que meu pai lia quando eu era criança: e o gigante despejou através de sua piroca descomunal um jato sulfúrico de cor laranja e cheiro pestilento sobre as asas do bichinho que lutou contra a correnteza que o impelia ao fosso dos afogados. A mariposa volvia na turbulência da água.
Mas se morresse não contaria seu feito épico.
Apiedei-me do bicho julgando meu ato sem fim senão a maldade. Enfiei um prestobarba enferrujado no vaso e retirei-a ensopada e imóvel.
– Estaria morta?
Aliviado eu repousava sentado sobre o muro da sacada, empunhando um cigarro intitulado do amanhecer, quando reparei nos postes. "Os postes aclaram a negra idade das manhãs". Não, este não seria o bom começo de uma história. Nem o meio e nem o fim!