terça-feira, outubro 12, 2010

Conto inacabado

O puto mal tocou no prato de feijão e foi saindo. Olhou para os lados e certificou-se com astúcia de padre que atravessa a rua. Cinco passos depois estava lá ensanguentado e rolando feito um verme no sol e na poeira seca. Cão safado, isso não se faz, foram cinco tiros na barriga; o corno que o deixou com as tripas no tempo fugiu; mas mereceu, foi feito pra isso. E morrer quando se assume o risco é até bonito. E um punhado de borboletas amarelas dessas de cemitério vieram lhe buscar, vixe, parece até coisa de escritor latino-americano; mas é a mais pura verdade, juro, eu vi. Ainda não se sabe quem despachou o rapaz, sabe-se dos tiros e dos desafetos. Aparentemente ninguém chorou e família não se sabe. Uma ou duas moças olharam de longe. Ainda deu tempo de ver. Agora o sangue já seco formando o mapa do inferno em torno do corpo. Não é santo e nem vilão, mas quem é?
Caiu uma chuva de arrancar o chão, durou uns trinta minutos. Ouviu-se um canário ao longe. O rabecão chegou e soldado tomou nota.
Levaram o rapaz embora.

1 Comments:

Blogger Ariel Lacruz said...

Massa! Não tinha lido ainda... O Covil tá capengando, mas ainda sobrevive!

1:17 PM  

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