sexta-feira, outubro 20, 2006

Madrigal enjoadinho

Outro pra Dani? Claro!

Outrora tivera os seus olhinhos, agora mais nem isso. E até soubera que um beija-flor, desses pequeninos e bem iludidos, beliscou-lhe a pontinha – infame? – da orelha. E o blá blá blá de concupiscência, seria ausência? E o samba rasgado, foi pra sempre adiado? Amarguei afetado pela saudade, tal qual um baiano, aí, ai... E sentei numa cadeira permanecendo, só lembrando. Meu deus, quanto amor! Tranqüilizei-me e busquei qualquer motivo, um: amor aqui está frio, o mar está agitado, penso tanto num abraço quente seu agora... Mas isso, toda a gente sabe que só dizemos para o amor da gente. Nem sei pra que tanta poesia, “eu não devia te dizer, mas essa lua, mas esse conhaque, botam a gente comovido como o diabo”; quando, mesmo, só queremos uns beijinhos e daqueles abraços que somente a namorada com saudade sabe dar, eta lembrança boa meu deus! Anunciais o momento, pois aqui, só chuva, isso sim comove, e não sei em motivo de que, filosofia de poeta besta, é sempre um aluvião de melancolia. Pra que isso, que nasce tanto poeta bão e tantos outros nem. Ai ai...
E se tem resposta, isso, pergunto eu! Porque saber, ninguém sabe, sozinho não vou ficar mais não. E se tem abraço de menina sapeca me guardando, lá na praia do padre, então só, que melhor num pode melhorar.
Acontece que é um alvorecer, abrasando, numa balbúrdia metafísica, eu já nem clássico sou, muito menos concreto ou moderno, sou é velho mesmo, a saber, no máximo, quando muito, peculiar, ai ai! E vem querendo escrever cheio de dedos, mas só basta é conformar, porque amor, só tem um, e quando cabe tanto esperar que até eu me espanto, e rio envaidecido com tantas possibilidades. E espaço que fica, no coração pasmado, nem serve de consolo, pois que, namorada, poesia ou monólogo que haja sobre o que é o quê, num conto pra mais ninguém; segui espairecendo, contando nos dedos a tal melodia e dia que não chega, com uma preguiça danada, só coçando a barriga.


George Saraiva

quarta-feira, outubro 18, 2006

dezoito de outubro de dois mil e seis - casa quatro - vitória

Helga dorme. O sol, velho e gordo, varrendo o frio do seu corpo sempre cansado, sempre indo, evolando também suas ondas curtas de um igual calor. Parte do dia respira. Atrás da janela fechada, as ruas passeiam pela paisagem, cheias de brisas e bocejos. Helga nem sonha. Dorme totalmente. Desaparece no escuro que a varre do dia para o nada e dorme. O sol também indo, sem pressa nem tormentas, passa quieto sobre o nada dela e morre na janela que tudo impede. Nem aviões, nem gritos, nenhuma imagem, nem mesmo fantasma, adentra na escuridão do seu sono. Nenhuma música tange seus nervos. Só respira. Sem mesmo saber que respira. Sem saber que dorme e nada mais. Sem se sentir e nem saber que não se sente. Horas e horas neutra como um rio ou uma árvore. Alheia ao tempo e aos seus conceitos terríveis. Só deixando que este passe até que chegue outro beijo.


j. gauche

terça-feira, outubro 03, 2006

vinte e seis de setembro de dois mil e seis - casa quatro - vitória

Desfez-se no céu branco da meia-tarde, a mais improvável dúvida e depois mais nada. Tudo era um enorme tanto faz. A parede do prédio trincando de cima até em baixo, ficava perfeita na paisagem enquanto chovia. Uma linda plantação de ruínas. Tudo se abraçando e deixando o tempo ir. – Como assim na minha vida até agora nada disso? Isso que sempre está em tudo e em qualquer lugar! Que punge em todo o sangue e em toda seiva. – Desfez-se no céu da tarde no meio do nada. Exatamente quando nasceu esse nada que eu fitava no céu. O carro, por mais que corresse, não saía debaixo do céu, que me cercando era como se me cegasse. Meu Deus, eu estava tão triste. De repente, no mesmo céu de todo dia, eu nunca mais voltei.

j. gauche