Le Tournesol de la fille
Naquele dia o mundo renasceu, distante da tristeza, o que outrora fora noite de lúgubre frieza, revelava-se imediatamente como um sorriso inesperado. Não sei por que ares de romantismo, minhas mãos, trêmulas, insistem em pedantismos fáceis, afetados. Aos olhos do amor tudo é tão simples como no final de um belo instante, quando não temos mais a eternidade. Mas esta é a moldura. Chá de morango com hortelã, na varanda, e lá fora só o cheiro agridoce e o barulhinho de pingos de chuva.
Apresento-me como interlocutor de uma geração perdida, mítica, onde as Fábulas do Nunca, inacreditavelmente são reais. Imaginem o caos: unidos na distância de um adeus ou de mais um beijo que ficou pra depois. Tantas vezes instável, alma sempre sedenta de mais um corpo, eu, doente, levantando-me com calafrios e suores noturnos; pranto incontido e a visão de uma menina vestida em girassol.
Bom, o sonho ainda não havia se apagado da in-memória cansada. Ela. Olhos grandes, amendoados e doces como os olhos de um filhote que se perdeu da mãe, andando sobre a verdade poética da timidez, pleno contraste confrontando os cabelos castanhos revoltos, desenhando o rosto grave com linhas suaves. Amparando o soberbo numa boca que seria o meu refúgio contra a dor. Eu. Um espantalho maquiavélico, maltrapilho sem vaidade ou brio, escondendo-me dos transeuntes como um Nosferatu, o vampiro dos velhos livros. E há quem diga que tudo não passou de um acidente profundamente azul, ou cor que seja, que represente calmaria, na confusão de outros dias e outras noites de aromas intensos. A espera chegava ao fim.
Poder cobrir-te com flores, menina; tentativa frágil de lhe emprestar algum amuleto para a proteção natural, comum a estes seres que movem o mundo simplesmente exalando ar. Sabemos todos, sim, estes são temas agastados, mas para um homem, que há tempos imemoriais não sabe o que é um dia de rosas, a bajulação expõe-se como um prato saboroso.