quarta-feira, novembro 22, 2006

Desarmonia

O romancista é um poeta desgraçado.

Condenado a sua infalível pantomima,

Gesticula abarcando sua infindável solidez,

Somente com olhos, argutos, acima de tudo, perenes.

É um espantalho carcomido pelo martírio de ser incapaz de dizer

Coisas.

É a um só tempo, verme e coveiro, criatura emblemática,

Onde a carência de gestos apenas lhe curva as costas.

É, portanto desses seres capsulares. Casulo de seda amparado por brocas. E talvez,

Bocas.

Satisfaz-se com ínfimas atribulações, mas permanece sentado, alvejando

A blindagem sagrada do tempo com vicejante suavidade, caminhando, com sabe deus

Com que tez altiva e mole, molestando a carnavalesca desordem das impossibilidades.

Curiosa engrenagem de instinto subjugada pela vergonha de saber-se inconciliável com

Suas verdades.

Somente a concisão lhe impressiona.