Desarmonia
O romancista é um poeta desgraçado.
Condenado a sua infalível pantomima,
Gesticula abarcando sua infindável solidez,
Somente com olhos, argutos, acima de tudo, perenes.
É um espantalho carcomido pelo martírio de ser incapaz de dizer
Coisas.
É a um só tempo, verme e coveiro, criatura emblemática,
Onde a carência de gestos apenas lhe curva as costas.
É, portanto desses seres capsulares. Casulo de seda amparado por brocas. E talvez,
Bocas.
Satisfaz-se com ínfimas atribulações, mas permanece sentado, alvejando
A blindagem sagrada do tempo com vicejante suavidade, caminhando, com sabe deus
Com que tez altiva e mole, molestando a carnavalesca desordem das impossibilidades.
Curiosa engrenagem de instinto subjugada pela vergonha de saber-se inconciliável com
Suas verdades.
Somente a concisão lhe impressiona.