quarta-feira, abril 19, 2006

Um Testamento

De onde vem minha paz? Conta-me os teus segredos de amor...Eu arranquei minha cruz, sou agora, um homem de mãos limpas e peito aberto; como havia dito, não há mais adjetivos fáceis e afetados, há, agora, um desejo imenso por poesia e de teu sorriso cheio de verde e vida segredei e confiei meu corpo. Supostamente a aridez chegou ao fim. Meu caminho é uma encruzilhada cuidada pelo mau-agouro; tenho meus guias e santos deitados, abandonados à brusquidão. É um cheiro bom que vem de dentro quando se está feliz, debruçando-me à janela para a espera nova e as dúvidas de não saber se agora sou só eu! Tu me acompanhas, tens me dado o abrigo que preciso, tenho minha mutação embaralhada em confusões simples, mas cruéis. Prestei-me ao teu cortejo dias e dias diante da aurora de percepções macias como nuvem. Ah os sabores delicados, as texturas: há mais desejo pelo teu corpo agora, a carne treme em vertigens sinuosas. O amor é o caos, o repouso da dança, os lapsos de som num acorde. Quero afogar minha calma em tristeza doce; hei de te levar pelas mãos para mostrar o mundo e enxergá-lo com teus olhos, porque ninguém sabe nada. Eu farei um poema por dia até que tudo que eu faça não seja mais parte de mim. Tenho uma imensa necessidade de beleza porque sou triste e destrutivo, mas não, não qualquer beleza, mas a embriaguez de possibilidades poéticas...entrego-me em teus braços para esperar o amanhã.

George Saraiva